quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A BOMBA DE HIROSHIMA

           
          Para os que lá estavam e sobreviveram, a lembrança do instante em que o homem, pela primeira vez desencadeou contra si mesmo as forças naturais de seu universo é de um relâmpago de outra luz, ofuscante e intensa, mas de uma terrível beleza e variedade. Se houve algum som, ninguém ouviu.
            O relâmpago inicial gerou uma sucessão de calamidades. Primeiro veio o calor. Durou apenas alguns instantes, mas foi de tal intensidade que derreteu os telhados, fundiu os cristais de quartzo nos blocos de granito, chamuscou os postes telefônicos em uma área de três quilômetros e incinerou os seres humanos que se achavam nas proximidades, tão completamente que nada restou deles, a não ser suas silhuetas, gravadas a fogo no asfalto das ruas ou das paredes de pedra.
            Depois do calor veio o deslocamento de ar, varrendo tudo ao seu redor com a força de um furacão soprando a 800 quilômetros por hora. Em um circulo gigantesco de mais de três quilômetros, tudo foi reduzido a escombros.
            Em poucos segundos o calor e o vendaval ateiam milhares de incêndios. Em alguns pontos, o fogo parecia brotar do próprio chão, tão numerosas eram as chamas tremulares geradas pela irradiação do calor.
            Minutos depois da explosão começou a cair uma chuva estranha. Suas gotas eram grandes e negras.
            Esse fenômeno aterrador resultava da evaporação da umidade da bola de fogo e de sua condensação em forma de nuvem. Á medida que a nuvem, formada de vapor de água e pelos escombros pulverizados de Hiroshima, atingia o ar mais frio das camadas superiores, condensava-se caindo sob a forma de chuva negra que não apagava os incêndios, mas aumentava o pânico e a confusão.
            Depois da chuva, veio o vento – o grande vento de fogo -, soprando em direção ao centro da catástrofe e aumentando a violência a medida que o ar de Hiroshima ficava cada vez mais quente. O vento era tão forte que arrancava  as arvores enormes dos parques onde se abrigavam os sobreviventes. Milhares de pessoas vagavam ás cegas e sem outro objetivo a não ser fugir da cidade de qualquer maneira. Ao chegarem aos subúrbios, eram tomadas, a principio, por negros e não japoneses, tão enegrecidos estavam. Os refugiados não conseguiram explicar como foram queimados. “Vimos um clarão”, contavam, “ e ficamos assim”.

                        (FARIA, Ricardo et  al. Construindo a história. V. 3. São Paulo: p.310)

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